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Sociais Outros negócios 2024-07-25

Desde a revitalização de terras áridas na Austrália ou na Espanha, até o replantio de corais na Colômbia, hoje falamos de ações sustentáveis locais que melhoram o planeta

Recentemente, soubemos da notícia do grupo de mulheres idosas suíças que conseguiram que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) reconhecesse que seu país está violando os direitos humanos das pessoas idosas por não tomar as medidas necessárias contra a mudança climática.

Em um mundo onde as manchetes frequentemente se concentram nas grandes ameaças do aquecimento global e da degradação ambiental, é fácil se sentir impotente diante da magnitude dos problemas. No entanto, um olhar mais atento revela inúmeras histórias de indivíduos e comunidades que, como esse grupo de mulheres suíças, estão fazendo uma diferença significativa.

Essas ações sustentáveis não apenas ilustram o poder do impacto pessoal e coletivo, mas também oferecem esperança e um caminho a seguir. Porque, às vezes, o conhecimento local é a melhor ferramenta, não apenas para se adaptar à mudança climática, mas também para cuidar dos recursos naturais que nos cercam.

 

O que vou ler neste artigo?

  • Agricultores contra a desertificação na Espanha
  • Oito amigos que reviveram uma colina na Austrália
  • A guardiã da vida nas profundezas de Caleta Talca
  • Revivendo o verde na República Dominicana
  • Os jardineiros de corais do Caribe

 

Um pequeno exército de agricultores contra a desertificação

O sudeste da Espanha se tornou uma região assolada pela seca e desertificação. Lá, um grupo de agricultores e ativistas tomou a iniciativa de reverter o dano ambiental. Por meio de técnicas de agricultura regenerativa e do plantio de espécies nativas resistentes à seca, esse “pequeno exército” está conseguindo recuperar terras que muitos consideravam perdidas.

Após mais de uma década de trabalho, seu esforço não só está melhorando a biodiversidade local, mas também aumentando a retenção de água no solo, vital para a sobrevivência da região. Seu objetivo não é reflorestar a área, mas “revegetá-la”. Não buscam criar florestas, mas ecossistemas.

O que começou com apenas 30 agricultores, já soma 359 envolvidos que colocam suas terras a serviço dessa revitalização do campo. Um avanço realmente importante, pois essas ações sustentáveis não buscam apenas a transformação ecológica, mas também econômica.

 

Como oito amigos reviveram uma colina australiana

O projeto de plantio de árvores da ReSource RICA no centro de Victoria, na Austrália, é outro exemplo inspirador. O que antes era uma colina desolada e “feia”, agora é um paraíso verde após mais de 20 anos de trabalho.

No final da década de 1990, oito amigos foram buscar o terreno de cultivo mais degradado e deteriorado que puderam encontrar. Não para viver nem para ganhar dinheiro, mas para transformá-lo em um projeto de reflorestamento que pudesse demonstrar como a dedicação a longo prazo à restauração ecológica poderia mudar radicalmente uma paisagem. Conforme contam seus protagonistas neste artigo, havia quatro árvores vivas, era um terreno semiárido e o solo estava muito degradado.

O grupo realizou cursos de plantio de árvores e coleta de sementes e se tornou uma associação comunitária chamada ReSource RICA, acrônimo de Reabilitação, Indígena, Comunidade, Acesso. Começaram plantando espécies nativas, selecionadas cuidadosamente para se adaptarem ao solo e ao clima local.

Suas ações sustentáveis não consistiam apenas em plantar árvores ao acaso; cada espécie tinha um propósito específico, seja para melhorar a qualidade do solo, fornecer habitat para a vida selvagem local ou simplesmente oferecer beleza estética.

Mais de duas décadas depois, o projeto transformou a colina em um vibrante ecossistema florestal. Agora é um lar para centenas de espécies de plantas e animais, algumas das quais estavam em perigo de extinção na região. Além disso, o projeto tem servido como um valioso recurso educacional para as comunidades locais e visitantes, demonstrando de forma palpável o impacto positivo do reflorestamento e da conservação ambiental.

 

A guardiã da vida nas profundezas de Caleta Talca

Nas águas frias e profundas de Caleta Talca, no Chile, Susana Galleguillos, a primeira mulher Alcaide do Mar, tornou-se uma figura emblemática da sustentabilidade marinha. Além de questões burocráticas, seu trabalho consiste na coleta das algas pardas em um ato de equilíbrio entre sustento e preservação.

Essas macroalgas - assim chamadas por seu grande tamanho - não apenas adornam o leito marinho com seus tons verdes e marrons, mas formam ecossistemas únicos conhecidos como huirales, essenciais para a biodiversidade marinha. A superexploração desses recursos, entretanto, levou à desolação de vastas áreas submarinas, transformando ricos bosques marinhos em desertos aquáticos. O trabalho de Galleguillos é vital nesse contexto, evidenciando a necessidade de um manejo sustentável dos recursos marinhos.

A importância das algas no equilíbrio ecológico marinho não pode ser subestimada. Atuando como pulmões submarinos, absorvem dióxido de carbono e oferecem refúgio e zonas de reprodução para inúmeras espécies.

O papel de Galleguillos e seus companheiros vai além da mera coleta; tornou-se uma corrida contra o tempo para preservar a vida marinha como a conhecemos. A primeira mulher a ser eleita Alcaide do Mar, Galleguillos lidera iniciativas cruciais para combater a perda desses ‘bosques’ submarinos. Seu esforço não é apenas uma questão de conservação ambiental, mas também uma luta para manter a integridade de comunidades que dependem economicamente dessas práticas sustentáveis.

 

Revivendo o verde na República Dominicana: a história de sucesso do Plan Yaque

Em 2015, a República Dominicana contava com quase metade de suas terras degradadas. Foi o resultado de uma época de intenso desmatamento e práticas agrícolas não sustentáveis que se estenderam por décadas. O crescimento populacional e o turismo descontrolado tornaram insustentável a manutenção da biodiversidade no país.

Felizmente, seis anos antes de essas estatísticas virem à tona, um grupo de dominicanos já havia se mobilizado para tentar regenerar a natureza do país por meio de ações sustentáveis. Em 2009, nasceu o Plano para o Desenvolvimento da Bacia do Rio Yaque del Norte (Plan Yaque), uma ONG cujo objetivo é proteger a bacia do maior rio da República Dominicana.

O funcionamento do Plan Yaque é tão simples quanto eficiente: convencer os proprietários de terras de que reflorestar suas propriedades também é benéfico para eles. O acesso instável à água, que tem sido a dor de cabeça de todos os agricultores dominicanos, também se tornou um argumento infalível para persuadi-los.

Como soluções, implementaram projetos de reflorestamento utilizando espécies nativas, o que não apenas ajudou a restaurar a paisagem natural, mas também a melhorar a retenção de água no solo, um aspecto crucial para a agricultura e para manter o fluxo constante de água no rio durante todo o ano.

Além disso, o Plan Yaque trabalhou estreitamente com as comunidades locais para promover práticas agrícolas sustentáveis. Isso incluiu a introdução de técnicas de cultivo que minimizam o uso de produtos químicos, sistemas de irrigação eficientes para reduzir o desperdício de água e a diversificação de cultivos para melhorar a segurança alimentar e econômica dos agricultores.

“No início, os proprietários perguntam: e o que eu ganho com isso de plantar árvores na minha terra?”, conta Dulce María Fabián Ortiz no El País. “E quando você explica que assim eles vão garantir água em 10 ou 15 anos, eles pensam com mais calma”.

Com o passar dos anos, o Plan Yaque demonstrou ser um modelo bem-sucedido de ações sustentáveis e conservação dos recursos naturais. Em 2019, após uma década de trabalho ambiental na ilha, o país havia conseguido restaurar 18% das terras degradadas. O cuidado ambiental se traduziu em crescimento econômico: em 2010, o país havia gerado quase 54 bilhões de dólares; em 2019, seu PIB atingiu 89 bilhões de dólares.

 

Os jardineiros de corais do Caribe

De acordo com o último relatório da Rede Mundial de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), entre 2009 e 2018, aproximadamente 14% do coral do mundo foi perdido. Ou seja, cerca de 11,7 mil quilômetros quadrados, mais do que todo o coral vivo da Austrália. As previsões das Nações Unidas também não são esperançadoras: entre 70% e 90% desses ecossistemas estarão extintos ou próximos disso até 2050.

Juntamente com organizações e corporações locais, membros da comunidade, biólogos marinhos e técnicos, têm lutado contra o branqueamento desses animais em 12 localidades das ilhas colombianas.

Na Colômbia, eles têm trabalhado nos últimos três anos para evitar o branqueamento do coral do Caribe em 12 de suas ilhas. Os protagonistas dessa história são os mais de 200 pescadores que trocaram a vara de pesca pela jardinagem subaquática. Eles são conhecidos como jardineiros de corais e cultivaram mais de 850 mil fragmentos para curar o ecossistema marinho.

Seu trabalho consiste em trançar pequenos corais em cordas coloridas para deixá-los depois descansando no fundo do mar. Oito meses depois, quando tiverem crescido cerca de 15 centímetros, estarão prontos para seu transplante final nas profundezas do oceano, que voltarão a se encher de cores.

Essas ações sustentáveis são apenas alguns exemplos do impacto positivo que podemos ter em nosso planeta. Demonstram que, independentemente do tamanho da ação, cada esforço conta. Nos lembram que a mudança começa no local, em nossa comunidade. E que, juntos, podemos enfrentar os desafios ambientais mais prementes da nossa época.